sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Entrevista: Luis Eduardo Matta (Coluna)


"Quando o livro é bom, eu esqueço de tudo e não faço mais nada até terminar o livro"

No lançamento do mais novo thriller de Luis Eduardo Matta “O Véu” na livraria Travessa do Shopping Leblon, que contou com um público de mais de quarenta pessoas que mesmo com chuva e trânsito engarrafado não deixaram de comparecer prestigiando o autor na noite de autógrafos.

O conceituado escritor de thrillers brasileiros com ascendência libanesa conversou com a Digital Rio e contou como começou sua carreira de escritor e qual é a sua influência na hora de escrever seus livros.
                               


Digital Rio: Há quanto tempo é escritor e como começou a escrever?


Comecei a escrever aos 17 anos em 1992, depois de assistir uma entrevista do Jorge Amado e Zélia Gattai no programa do Jô Soares. E eu resolvi naquele momento que ia escrever. Eu era fã do Jorge Amado e leitor dos livros dele, achei sua postura muito simpática, pois era um homem que era além de ser um grande escritor era ao mesmo tempo muito simples. E eu de início tive uma certa ilusão de que era uma coisa fácil você ficar em casa, escrevendo e tal. Logo eu levei um cascudo percebendo que não era algo assim, é extremamente difícil, mas conclui aquele primeiro livro (Conexão Beirute-Teeran) que foi publicado no ano seguinte. Eu estava com 18 anos quando ele saiu e foi um livro muito importante na minha vida porque eu descobri a paixão pela escrita e também uma forma de extravasar meus bons fantasmas interiores.


Digital Rio: Fale um pouco do seu Histórico como escritor, os livros que lançou até agora.


Lancei o meu primeiro livro “Conexão Beirute Teeran”; todos os meus livros são thrillers. Thriller é a ficção de suspense. Meu primeiro livro saiu em 1993 e depois eu fiquei nove anos sem publicar. Meu segundo livro só saiu em 2002 e se chamou “Ira Implacável”. Esses nove anos sem publicar foram importantes porque eu pude me desenvolver como pessoa e também porque eu tive muita dificuldade de voltar a publicar, até que uma editora se dispusesse a publicar meus livros. Eu perdi as contas de quantas se recusaram, seguramente, mais de trinta vezes. “Ira Implacável” teve uma boa repercussão na época e me abriu um caminho precioso e eu pude continuar publicando meus outros livros. Em 2005, eu publiquei “120 horas”, que até hoje recebo cartas de fãs elogiando o livro e a vilã principal da história tem até fã clube na internet. Depois de “120 horas”, eu dei um tempo para produção de ficção adulta, porque eu comecei a publicar ficção juvenil. Thrillers juvenis que tinham a ver com a minha preocupação com a formação de leitores nas escolas, pois eu acho que o futuro do Brasil está na leitura, e como eu sou um entusiasta da leitura, e sou alguém que vê um livro como uma atividade extremamente acessível a todo mundo. Não acho que o livro seja só para eleitos, todo mundo pode ler e por conta disso comecei a publicar thrillers juvenis. Acho que o thriller é um bom gênero para iniciar leitores. “Morte no Colégio”, saiu pela Coleção Vagalume da Editora Ática, também publiquei “Roubo no Passo Imperial” e depois de publicar esses livros, resolvi voltar para a ficção adulta. Então recomecei os thrillers adultos agora com “O Véu” que é o meu sétimo livro que está saindo agora no final de 2009.


Digital Rio: Por que o gênero thriller o interessa tanto?


Eu sou fascinado por ficção de mistério desde os oito anos de idade quando eu assisti a uma novela chamada “Champanhe” e tinha um mistério na novela. O pessoal lá de casa começou a perceber que eu gostava desse tipo de ficção e me levava para ver filmes, depois eu comecei a ler livros juvenis de mistério: João Carlos Marinho, João Carlos Reis e depois eu passei para a Agatha Christie que foi a minha porta de entrada para a ficção adulta. Depois comecei a ler outros tipos de literatura como Jorge Amado, Fernando Sabino e outros escritores, e me tornei um autor eclético, mas eu tenho uma preferência por literatura de mistério. Quando o thriller é bom, eu esqueço tudo e não faço mais nada até terminar o livro.


Digital Rio: Quais seus livros e autores favoritos?


Gosto muito de Agatha Christie na literatura policial, gosto muito de um livro chamado “Analista” de um autor americano chamado John Katzenbach, Dostoievski, Jorge Amado, Fernando Sabino, Graciliano Ramos, Lima Barreto.


Digital Rio: Fale um pouco do seu novo livro “O Véu”


É um thriller cujo centro da trama é um quadro de uma mulher muçulmana seminua. Esse quadro guarda um segredo terrível que pode mudar o mundo e é também a saga de três mulheres que vivem dilemas distintos e acabam se cruzando no meio da trama. E o mistério desse quadro, tem a ver com a crise política que implode no Irã no mês das eleições presidenciais de 2009. E os dois fatos (o mistério do quadro e a Crise no Irão estão ligados), desembocando uma conspiração terrível que está oculta na trama.


Digital Rio: Você tem planos para o futuro?


Terminei um livro juvenil agora, e estou começando outro, e estou finalizando um livro que era para ser um drama e acabou virando thriller. Já estou nas páginas finais.


Digital Rio: Como é o seu processo de escrever? O que te inspira?


A realidade. A vida das outras pessoas, as noticias que saem no jornal. Me inspiro mais na realidade e nas noticias de imprensa do que na própria literatura.




Digital Rio: Tendo ascendência Libanesa por parte de pai, como é que você sempre transpõe isso para os seus livros?


O Oriente Médio de um modo geral me interessa e já cruzou fronteiras do Líbano. Eu tive pouco contato com a família do meu pai e eu vi uma reportagem na TV sobre a guerra do Oriente Médio, e várias entrevistas foram feitas. Eu senti uma identificação. Foi um início de uma forma de resgatar esse meu lado que eu não tinha tanto contato, mas em um determinado momento aquilo virou um interesse porque a região é muito fascinante, é complexa, é uma região cheia de contradições, choque de civilizações, guerras racionais... Eu gosto de coisas contraditórias de uma maneira geral e eu gosto de escrever o Oriente Médio para quebrar os estereótipos que a gente tem sobre os povos que habitam lá.


Digital Rio:  Você tem algum conselho para jovens escritores?


Tem que ser persistente, tem que gostar de escrever, ter auto crítica e respeitem seus colegas escritores. Não deixem o sucesso (ou o fracasso) subir a cabeça. Sejam humildes.




O autor com a equipe da Digital Rio, Anny Lucard e Louise Duarte no lançamento do livro "O Véu" na livraria Travessa do Shopping do Leblon.
Fotos: Anny Lucard

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