Claudia Ohana e Mateus Solano falam sobre A NOVELA DAS OITO
30/03 - 15h28
por Redação Cinema em Cena

Reportagem e fotos por Louise Duarte, especial para o Cinema em Cena
Duas mulheres fugindo da polícia em plena ditadura militar em 1978, com um enredo que lembra Thelma & Louise, de Ridley Scott. Um jovem diplomata volta ao seu país e redescobre a sua sexualidade depois da morte do pai. Tudo isso embalado com a novela Dancin’ Days, sucesso televisivo que ditava moda na época. Este é o enredo de A Novela das Oito, longa de estreia de Odilon Rocha, estrelado por Claudia Ohana, Mateus Solano, Vanessa Giácomo e grande elenco, que acaba de entrar em cartaz.
Solano interpreta João Paulo, que volta ao Brasil depois de muito tempo vivendo no exterior e logo se envolve com outro homem. Em coletiva realizada no escritório da Paramount Pictures, no Centro do Rio de Janeiro, o ator falou sobre o beijo entre os personagens, algo que ainda é um tabu na TV brasileira. “A televisão mostra o que o público quer. Acho que esse personagem não seria diferente na televisão. Claro que ele estaria mais preso à forma da televisão. Claro que não teríamos um beijo gay caliente como foi nesse filme, mas eu, como ator, tento trazer a humanidade para todos os personagens, seja na TV, cinema, teatro. E a humanidade é isso. É o que o cinema se propõe a dar. Você vê a cena do beijo, é uma cena viril, é uma cena de dois machos se entregando. Tem testosterona ali. Isso é uma coisa, não digo nova, mas que o público do Brasil não costuma ver. O gay surge sempre frágil ou afetado, estereotipado. Então, acho importante trazer essa normalidade para o homossexual.”
Claudia Ohana interpreta Dora, uma jornalista que precisou se exilar, sob uma nova identidade, na casa da garota de programa interpretada por Vanessa Giácomo. Dora é também a única que percorre a trama interagindo com todos os personagens. A atriz conta que Dora sofre uma transformação durante o filme. “Ela começa um personagem muito sofrido, que passou por tortura, está exilada, teve uma perda de personalidade... Ele é um personagem difícil porque não é um militante político, foi presa por causa de um artigo que fez por amor, não é uma empregada. Era um personagem ao mesmo tempo muito humano, uma mulher comum que, por azar da vida, se viu naquela situação e teve que se exilar e abandonar toda a vida dela. Ela sofre a transformação muito através da personagem da Amanda, que é o oposto dela. É o alter ego dela. É muito sutil o personagem, as histórias vão se entrelaçando, e acho que o cinema é muito o olhar. O olho diz tudo, coisa que não se tem na televisão.”

Os atores comentaram como uma novela atualmente não paralisa mais um país inteiro como antigamente. “(Isso só acontece hoje) no último capítulo, quando o Silvio de Abreu mata todo mundo. Acho que o tempo da gente está muito rápido, muito presente, a gente não prepara nada para o futuro. A gente está vivendo o carpe diem de uma forma superexagerada e acho que não só com as novelas. Às vezes me pergunto por conta dos gêmeos que eu fiz (na novela Viver a Vida). Ruth e Raquel estão no nosso imaginário para sempre. Não sei se os gêmeos vão ficar no imaginário desta geração”, lembra Solano. Ohana complementou lembrando que as épocas são diferentes: “Antigamente não tinha TV a cabo. Não tinha paparazzi.”
A atriz, que tem uma participação especial na trilha sonora do filme, contou como foi essa experiência, já que não é a primeira vez que cantou. Ela já mostrou seus dotes musicais em outros trabalhos, como no filme A Ópera do Malandro, na novela Vamp e na montagem do musical Rocky Horror Picture Show, entre outros. “Na verdade, eu sempre cantei. Eu faço musical há muito tempo, já fiz filme, já fiz uma novela musical – que acho que é a única novela musical (Vamp) – então, acho que estou sempre me preparando. Foi o Odilon quem me chamou e me deu essa música, que eu nunca tinha ouvido, que é “Waiting For You”, é linda. Fui com a letra da música para gravar, aprendi a melodia e gravei.”
Ohana, que também fez figuração em Dancin’ Days no início de sua carreira, finalizou a entrevista contando como foi voltar para aquele universo. “Fazer esse filme foi voltar uma época toda da minha vida. Quando eu fiz 15 anos de idade, minha vida mudou e eu tive que trabalhar. Comecei fazendo figuração e por acaso fiz figuração em Dancin’ Days. É incrível como o mundo gira, e a gente volta as coisas, e foi incrível. Foi uma volta ao passado.”
Assista ao trailer de A Novela das Oito. O filme, que ganhou o Troféu Redentor de Melhor Roteiro no Festival do Rio de 2011, entra em cartaz com 20 cópias.
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